Caio Klosovski | 05 jun 2024
O termo Point-of-Care Testing (PoCT) — teste no ponto de atendimento, em português — designa qualquer tipo de exame diagnóstico feito no ponto de atendimento ao paciente, geralmente fora de ambientes laboratoriais, por um profissional de saúde.
Em outros países, o point-of-care testing também pode ser chamado de near patient testing (teste próximo ao paciente) ou bed side testing (teste ao lado da cama). Também é muito comum se usar simplesmente Point of Care (POC) para se referir a este tipo de exame ou dispositivos que o realizem.
Assim como toda evolução da medicina, o PoCT tem como objetivo oferecer atendimentos mais rápidos, eficazes e precisos aos pacientes. Eles são uma alternativa de diagnóstico simples e barata para auxiliar médicos e profissionais da saúde, além de garantir muito mais praticidade para a população.
No Brasil, até pouco tempo atrás, o termo adotado oficialmente para PoCT era Teste Laboratorial Remoto (TLR), por determinação da RDC nº 302/2005 da Anvisa. Contudo, esta norma foi revogada e substituída pela RDC nº 786/2023, que não utiliza mais esta nomenclatura.
Agora que você já sabe o significado do termo, continue neste artigo, para entender o que é point-of-care testing na prática. Como ele funciona? Quais são os principais benefícios que esta tecnologia traz para a área da saúde? Confira a seguir.
Na prática, um PoCT é um exame rápido, realizado em um equipamento especializado e de fácil operação, que pode estar presente em diversos tipos de estabelecimentos de saúde. Seu objetivo é, antes de mais nada, facilitar o acesso à saúde e a rapidez nos resultados de exames e diagnósticos. Aqui, é importante deixar claro que autotestes não são considerados PoCT.
Como os PoCTs e seus dispositivos são automatizados, eles podem ser operados por diversos profissionais da saúde, como médicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, socorristas, radiologistas, entre outros. Aqueles que não possuem formação ou experiência laboratorial podem realizar treinamentos (muitas vezes online) para se capacitarem a operar o PoCT.
Atualmente, existem diversos tipos de aparelhos para PoCT disponíveis no mercado, capazes de realizar uma grande variedade de exames diferentes, utilizando material biológico variado (sangue, saliva, urina, etc.), conforme a finalidade de cada teste.
O point-of-care testing funciona, basicamente, como um apoio para diagnósticos no sistema de saúde. A tecnologia dos equipamentos de PoCT permite que as pessoas realizem exames de análises clínicas (EAC) de complexidade variada sem que necessariamente precisem ir até um laboratório.
Todo EAC, inclusive os point-of-care, são executados em três etapas:
De forma resumida, esta etapa se inicia com a solicitação do exame e termina quando começa a análise propriamente dita. Portanto essa fase compreende:
O modelo tradicional de exames também inclui o transporte e conservação de materiais.
Esta parte envolve um conjunto de processos até a obtenção de um resultado. Isso significa que a amostra é analisada de acordo com um método determinado, com etapas e equipamentos específicos.
A última etapa se inicia após a obtenção dos resultados e inclui a emissão e providências para entrega do laudo.
Importante: De acordo com a RDC 786/2023 da Anvisa, que regula serviços de EAC, em farmácias e consultórios isolados, todas as etapas e fases relacionadas ao EAC devem ocorrer no próprio serviço (in loco).
No caso do Serviço Hilab, optamos por uma abordagem diferenciada, que aumenta a precisão e especificidade do PoCT. Para isso, encaixamos as fases do EAC em um processo com 5 passos, veja só:
Tudo começa com um cadastro online do cliente. Além de dados pessoais, que auxiliam no rastreamento do exame, também realizamos uma anamnese completa do paciente.
O objetivo é auxiliar a tomada de decisão do farmacêutico/profissional de saúde, identificando dados como a queixa do paciente, histórico da doença, histórico familiar, entre outros.
A ideia é obter informações mais precisas sobre a saúde do paciente, aumentando a correlação clínica com o teste a ser realizado.
Geralmente, esse processo é executado pelo profissional de saúde que irá realizar o exame.
A segunda etapa para realização de um PoCT é a coleta da amostra a ser analisada, que é feita por um profissional qualificado, utilizando equipamentos descartáveis.
Se o exame a ser realizado precisar de saliva ou secreção, a coleta é feita com o uso de um swab, aquele “cotonete” que se popularizou na pandemia de Covid-19. Para qualquer efeito, o nome técnico é haste flexível de algodão.
Já nos exames que demandam amostra de sangue, a coleta é feita por punção capilar. Isso nada mais é do que realizar um furinho na ponta do dedo para retirar algumas gotas de material. Funciona como os autotestes de glicemia, para rastreamento do diabetes, só que no caso do PoCT esse princípio pode ser aplicado para centenas de exames.
Alguns dispositivos PoCT podem receber outros tipos de amostras, como urina ou fezes. Nesses casos, é importante que o estabelecimento tenha a permissão necessária para coletar este tipo de material. Isso porque, de acordo com a RDC nº 786/2023 da Anvisa, farmácias e consultórios independentes não têm permissão para processar ou fazer exames com amostras de urina e fezes.
Amostra coletada, o próximo passo é inseri-la no dispositivo Hilab, que digitaliza a amostra. Depois disso, nossa inteligência artificial (IA) faz a análise e gera um resultado.
Depois que a IA gera o resultado, ocorre o que chamamos de processo de dupla verificação: um profissional de saúde analisa e confirma o resultado. Esse processo vale tanto para os exames realizados presencialmente, quanto para os que são feitos a distância.
Quando esta confirmação acontece remotamente, um especialista do nosso laboratório analisa os dados do exame, que ficam armazenados em nuvem.
Todo esse processo é o que garante ainda mais confiabilidade ao diagnóstico.
Depois de confirmar o resultado do exame, o profissional de saúde libera o laudo assinado para o paciente.
Nos serviços in loco, basta entregar o laudo assinado em mãos. Já nos exames a distância, quando nosso especialista libera o resultado, nosso sistema envia o laudo assinado direto para o paciente, por e-mail e SMS.
Quando os dispositivos de PoCT são compactos e fáceis de usar, eles podem ser instalados em diversos tipos de locais, tais como:
Por serem equipamentos portáteis, os PoCT podem estar presentes também em ambulâncias, helicópteros e veículos de socorro em geral. Desta forma, eles podem ser transportados até os lugares em que sejam necessários com rapidez e segurança.
Além disso, um point-of-care testing pode ser instalado em qualquer ambiente com grande concentração de pessoas. Parques temáticos e navios de cruzeiro, entre outros, podem ter equipamentos de testagem laboratorial remota instalados para oferecer exames aos visitantes de forma rápida.
Em todos esses lugares é fundamental que um profissional de saúde qualificado esteja presente para coletar as amostras e operar os equipamentos. A presença não só é recomendada como necessária para que o local de testagem esteja em conformidade com as regulamentações elaboradas pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde.
O número de PoCTs disponíveis no mercado é cada vez maior. Aqui na Hilab já oferecemos testes para dezenas de analitos. Os principais são:
A utilização de testes laboratoriais remotos traz inúmeros benefícios para as pessoas, especialmente em períodos de emergência, como a pandemia de Covid-19, com hospitais lotados e as restrições de se deslocar para realizar exames de rotina e monitorar o próprio bem-estar.
A praticidade de poder realizar exames fora do ambiente laboratorial convencional é um ponto muito positivo. Ao realizar um exame POC, o paciente não sobrecarrega ainda mais os hospitais e se expõe menos a ambientes com aglomerações e pessoas doentes.
Por se utilizar de equipamentos portáteis, o PoCT vai até lugares em que a medicina tradicional custa a chegar. Áreas rurais, aldeias indígenas, regiões de difícil acesso ou simplesmente vilarejos pequenos, que não contam com estrutura laboratorial para realizar exames clínicos, são bons exemplos.Aqui, na Hilab, já participamos de missões e ações em comunidades ribeirinhas, com populações isoladas no sertão e em territórios indígenas. Em todas essas ocasiões, oferecemos exames considerados simples, mas muito difíceis de se fazer nestas regiões. Em 2023, inclusive, realizamos o primeiro hemograma completo point-of-care, que se tem registro, em comunidade indígena, no Parque do Xingu (MT). E isso só foi possível por conta do nosso dispositivo Hilab Lens.
A tecnologia por trás de um PoCT garante resultados em minutos, o que é mais uma vantagem deste tipo de exame. Da coleta do material genético ao resultado, a espera costuma ser de minutos, diminuindo a lacuna entre diagnóstico e tratamento.
Essa agilidade é especialmente valiosa em emergências sanitárias, em ambientes de pronto-socorro ou de tratamento intensivo. O Hilab Volt leva de 3 a 5 minutos para obter resultados de exames como sódio, cálcio iônico e potássio, que são fundamentais em atendimentos emergenciais.
Em atendimentos eletivos, o PoCT pode melhorar a jornada do paciente e otimizar a rotina de clínicas e hospitais, umas vez que os resultados ficam prontos durante a consulta do paciente.
A medicina preventiva, como o nome sugere, visa prevenir que uma doença se manifeste, ao invés de tratá-la. Com exames mais rápidos e acessíveis, o médico pode ter informações mais atuais e precisas sobre o quadro clínico de um paciente, podendo tomar ações mais ágeis e assertivas.
Os PoCTs também podem facilitar a aderência dos pacientes aos tratamentos, como já mostramos no case de sucesso do Dr. Fábio Sá, que tem uma clínica de atenção à diabetes em Manhuaçu (MG).
Exames clínicos e tratamentos médicos são bastante onerosos. Este é mais um ponto em que a tecnologia dos point-of-care testings se mostra vantajosa: há uma considerável redução de custos na realização desses exames. Afinal, eles não demandam estrutura laboratorial complexa, nem uma mão de obra altamente especializada.
Vale destacar, também, que a tendência é que a pesquisa científica torne os avanços tecnológicos e processos ainda mais baratos. O time de pesquisadores da Hilab, por exemplo, já realizou estudos que deixaram nossos exames de Covid-19 RT-LAMP e Covid-19 Ag mais baratos e, de quebra, obtiveram ganhos na sensibilidade.
As exigências de qualidade e segurança relacionadas aos PoCT, em geral, seguem o mesmo rigor que é aplicado para qualquer tecnologia ou serviço relacionado à saúde.
Por razões óbvias, é essencial estabelecer altos padrões de qualidade da fase de desenvolvimento à operação do produto. A Hilab é uma boa referência neste sentido, com estudos de validação revisados por pares. Já publicamos três artigos na Nature, um dos maiores e mais respeitados periódicos da comunidade científica.
No Brasil, todos os equipamentos e exames de PoCT devem obrigatoriamente ter um registro perante a Anvisa. Além disso, todas essas ferramentas são restritas a profissionais treinados, bem como a serviços previamente habilitados.
As resoluções que se aplicam ao PoCT são as mesmas que dispõem para qualquer produto ou serviço de diagnóstico in vitro.
Internacionalmente, um dos principais padrões para a realização do PoCT é a norma ISO 22870:2016, que estabelece os requisitos padrão deste tipo de teste em hospitais, clínicas ou instituições de saúde que prestam atendimento ambulatorial. Essa mesma diretriz também indica a aplicação conjunta da ISO 15189:2022 que indica os critérios de acreditação/certificação de laboratórios médicos.
A Organização Internacional de Normalização (ISO) também produziu normas para o treinamento de supervisores e operadores, e também para comunicação e troca de dados gerados por dispositivos PoCT.
É importante destacar que as normas ISO são consideradas os padrões ideais para exames POC, e não necessariamente são requisitos obrigatórios. Cada país possui suas próprias regras sanitárias, que devem ser observadas por quem fabrica ou realiza essa modalidade de exame.
Este é um tópico importante, pois existe um senso comum de que os PoCTs são basicamente aqueles testes rápidos com tira reagente, mas não funciona bem assim. Sem contar que, independente do método, a qualidade do produto e a forma como ela é aplicada fazem muita diferença.
Os exames da Hilab, mesmo aqueles de tira reagente, são avaliados pela IA. Essa abordagem garante que o teste não seja baseado somente na leitura visual, mas associado a uma análise aprimorada por algoritmos de IA e aprendizado de máquina, que auxiliam na avaliação.
Vale destacar que os exames POC são um campo de tecnologia diagnóstico com muito a ser explorado ainda. Existem pesquisas avançadas explorando diversos métodos e abordagens. E estudos de validação, como os do Hilab Lens, já provaram que os PoCTs podem apresentar alta sensibilidade, especificidade e precisão, em comparação com outros equipamentos do mercado.
Dito isto, as principais metodologias aplicadas nos exames point-of-care são:
O exame de imunocromatografia identifica doenças infecciosas, hormônios e outros analitos. De forma bem simplificada, seu funcionamento se dá a partir da geração de cor, por meio de uma reação química entre antígeno (substância estranha ao organismo) e anticorpo (elemento de defesa do organismo).
Existe uma “variação” desta metodologia chamada Imunocromatografia de Fluorescência ou FIA (sigla em inglês para Fluorescence Immunoassay). A FIA é uma técnica mais assertiva que a imunocromatografia, que tem resultados mais sensíveis e específicos.
Os exames imunocromatográficos da Hilab são executados no Hilab Flow. Alguns deles são: Beta hCG, Covid-19 Ag e TSH.
A colorimetria é baseada na comparação da faixa de comprimento de uma cor com base em outra que é utilizada como padrão. Na prática, o processo compara a intensidade de cor produzida por uma reação química com um tom padrão, indicando a concentração da substância que está sendo analisada.
O Hilab Flow também opera por meio desta metodologia para exames como de Perfil Lipídico, Função Renal e Glicemia.
Como o nome sugere, a microscopia é o estudo de objetos que não podem ser vistos a olho através de um microscópio. Na prática, a técnica possibilita ampliar uma imagem em dezenas e até centenas de milhares de vezes, para analisar partículas ínfimas.
O Hilab Lens, nosso dispositivo de microscopia, captura imagens ampliadas de amostras para o hemograma, que consiste em contar e analisar células sanguíneas. Ou seja, estamos falando de objetos que medem entre 1 e 17 μm (microns) de diâmetro, em média 15.000 vezes menor que uma moeda de um real.
Os exames eletroquímicos medem um sinal elétrico gerado a partir da amostra do exame. Dentro da eletroquímica existem 4 diferentes técnicas, cada uma monitorando uma característica elétrica diferente: potência, corrente, condutividade e resistência. A escolha da técnica é feita a partir das características do analito.
Para executar exames eletroquímicos, desenvolvemos o Hilab Volt. Nosso portfólio nesta metodologia inclui exames como Sódio, Potássio e Cálcio Iônico.
Point-of-Care Testing (PoCT), ou teste no ponto de atendimento, refere-se a exames diagnósticos realizados diretamente no local de atendimento ao paciente, geralmente fora de laboratórios tradicionais, por profissionais de saúde.
O Point-of-Care Testing (PoCT) também é chamado de near patient testing (teste próximo ao paciente) ou bed side testing (teste ao lado da cama). A abreviação POC é frequentemente usada para se referir a esses exames ou aos dispositivos que os realizam.
A norma ISO 22870:2016 define os requisitos para a realização do PoCT em hospitais, clínicas e instituições de saúde, e deve ser aplicada junto com a ISO 15189:2022, que trata da acreditação de laboratórios médicos. A ISO também estabelece normas para o treinamento de supervisores e operadores, além da comunicação e troca de dados dos dispositivos PoCT.
O Point-of-Care Testing (PoCT) representa uma revolução na tecnologia diagnóstica. Sua aplicação proporciona agilidade, conveniência e precisão na descoberta e monitoramento de diversas condições médicas. O PocT se diferencia por sua flexibilidade e eficiência, podendo operar em diversos locais e aplicações, seja por soluções mais básicas ou serviços mais especializados como o da Hilab.
Os rigorosos controles de qualidade e segurança aplicados, bem como a diversidade cada vez maior de exames e metodologias, evidenciam a confiabilidade e a eficácia dessa abordagem. Com o PoCT Já é possível identificar e monitorar uma vasta gama de parâmetros bioquímicos, hormonais e infecciosos, com rapidez e precisão. De testes de glicemia até testes de infecções e condições crônicas.
A implementação do PoCT nos sistemas de saúde beneficia profissionais de saúde e pacientes, pois não apenas melhora os resultados de saúde, como também otimiza recursos, reduz a lacuna entre diagnóstico e tratamento e, principalmente, democratiza o acesso à saúde.
Em suma, o Point-of-Care Testing está se consolidando como uma ferramenta suplementar na medicina moderna, contribuindo para a melhoria dos cuidados preventivos e curativos. À medida que a tecnologia avança, podemos esperar ainda mais inovações nesse campo, tornando o PoCT uma parte indispensável do futuro da assistência médica.
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Reponsável Técnico da Hilab, Mestre em Desenvolvimento de Tecnologia pelo Instituto LACTEC, Biomédico Patologista Clínico pela Universidade Tuiuti do Paraná, com pós-graduação em Gestão da Qualidade – Six Sigma (FAE) e MBA em Gestão do Conhecimento - Business Intelligence pela Universidade Positivo. Possui ampla experiência em análises clínicas e gestão de equipes nos setores de Bioquímica, Hormônios, Imunologia e Garantia da Qualidade.
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