Bruna Raddatz | 03 fev 2023
A sepse é a principal causa de morte nas UTIs em todo o mundo, com estimativa de mais de 48 milhões de casos e 11 milhões de mortes anualmente. Um dado chocante, especialmente pelo fato de muitas pessoas não saberem do que se trata.
Em resumo, trata-se de uma inflamação generalizada, ocasionada por uma resposta muito intensa do sistema imune. Contudo, essa breve explicação não comtempla a complexidade deste problema, bem como do funcionamento do nosso corpo.
Então, a seguir, vamos explicar em detalhes o que é a sepse, abordando o funcionamento do sistema imune, os sintomas, fatores de risco, diagnóstico e prevenção.
Também chamada pelo nome de sépsis ou septicemia, a sepse é popularmente conhecida como “infecção generalizada”. Por decorrência de uma resposta inflamatória desregulada, é criado um estado onde o sistema circulatório deixa de conseguir suprir as demandas de oxigênio e nutrientes exigidos pelos órgãos.
É uma doença complexa e potencialmente grave que, quando não tratada rapidamente, pode levar ao choque séptico, onde há queda drástica da pressão arterial e aumento do lactato no sangue, podendo levar à falência múltipla de órgãos e inclusive à morte.
Ao longo da evolução, os seres vivos desenvolveram ferramentas para garantir sua sobrevivência no planeta Terra. Uma delas é o sistema imune, responsável por reconhecer e eliminar parasitas, bactérias, fungos, vírus e outras substâncias que possam causar danos ao nosso corpo.
Ao reconhecer um organismo invasor, o sistema imunológico recruta células e anticorpos especializados no combate a esses patógenos, eliminando-os de maneira eficiente com pouco ou nenhum efeito colateral. Esse processo, chamado de resposta inflamatória, acontece durante toda a nossa vida – muitas vezes sem que sequer notemos -, e é essencial para livrar nosso corpo de organismos maliciosos.
Todavia, ao se deparar com alguns microrganismos – em geral, bactérias – que possam apresentar um maior risco à nossa saúde, o sistema imune pode gerar uma resposta inflamatória exagerada. Essa reação pode causar danos não somente ao patógeno invasor, mas também ao nosso próprio corpo, afetando diversos órgãos e criando uma disfunção generalizada, denominada Sepse.
Os sintomas da sepse iniciam mais brandos e se agravam à medida que o quadro clínico evolui.
Alguns dos sintomas iniciais são:
Com a evolução do quadro clínico, outros sintomas começar a surgir, como:
O choque séptico, por sua vez, é a fase mais grave da sepse, caracterizado pela queda brusca da pressão sanguínea, que não consegue ser restabelecida mesmo com a administração de líquidos por via intravenosa.
Qualquer pessoa, independente da idade e do estado de saúde, pode apresentar uma infecção que desencadeie a sepse. Entretanto, alguns grupos de pessoas estão mais sujeitos ao seu desenvolvimento, como:
As infecções relacionadas à sepse são normalmente derivadas de pneumonias, infecções urinárias, infecções abdominais (apendicites, infecções hepáticas e etc.), além das iniciadas por infecções hospitalares. Em crianças e recém-nascidos, entre as principais responsáveis pelo desencadeamento da sepse estão as infecções derivadas de meningites.
Quando um patógeno entra em nosso organismo, ele normalmente se instala em órgãos e tecidos próximos ao local de invasão – como o pulmão no caso de infecções respiratórias, ou a bexiga e os rins no caso de infecções urinárias.
A multiplicação desse patógeno gera uma resposta inflamatória no local de infecção, cujo papel será criar um ambiente propício para a eliminação do invasor. Para que isso ocorra, o corpo libera diversas substâncias químicas com funções como:
Entretanto, dependendo da condição de saúde da pessoa infectada e da taxa de reprodução do microrganismo, ele pode se espalhar mais rapidamente do que o sistema imune consegue combatê-lo, podendo atingir a corrente sanguínea e se espalhar por todo o corpo.
Quando isso acontece, o sistema imunológico entende que precisa liberar substâncias químicas cada vez mais tóxicas e em maior quantidade para conseguir dar conta da infecção. Quanto mais tóxicas são as substâncias liberadas, menos específicas elas são, ou seja, danificam não só o microrganismo, mas também nós mesmos. Essas substâncias entram na corrente sanguínea e podem atingir diversos locais, mesmo aqueles não afetados pelo patógeno invasor.
Quando as substâncias liberadas pelo sistema imune alcançam o corpo de maneira disseminada, os efeitos que elas apresentam começam a afetar o corpo todo, gerando reações como:
Essas reações iniciam um ciclo de agravamento do quadro do paciente, culminando em diversas respostas corporais, podendo inclusive levar ao óbito mesmo com o tratamento adequado.
Para realizar o diagnóstico correto da sepse, utiliza-se uma combinação de exames clínicos e laboratoriais.
Na clínica, o médico avaliará sintomas como presença de febre e calafrios, anormalidades de frequência cardíaca e respiratória, alterações de pressão arterial, além de verificar a possível existência de uma infecção.
Alguns exames laboratoriais poderão ser solicitados para identificar a fonte inicial da infecção e também para analisar o estado geral de saúde do paciente.
Dependendo do local primário de infecção, exames mais específicos podem ser solicitados – como punção lombar e ressonância magnética -.
O acompanhamento da evolução do quadro clínico do paciente é realizado com base nos sintomas e resultados dos exames acima citados, onde são atribuídas pontuações indicando a melhora ou agravamento da saúde do paciente.
Logo que um paciente dá entrada no hospital com suspeita de sepse, é iniciada a administração de antibióticos para tratar a infecção primária. Como o resultado dos exames para a identificação do patógeno pode demorar mais de 3 dias, e considerando que o quadro clínico do paciente se agrava muito rapidamente, é necessária a intervenção imediata. De acordo com o local de onde se originou a infecção, os médicos conseguem avaliar qual a bactéria que provavelmente está presente e aplicar os antibióticos necessários, podendo fazer adaptações do tipo e dose após a liberação dos resultados. Caso haja a possibilidade de a infecção ter se originado em cateteres, tubos e outros dispositivos médicos, também é realizada a retirada ou troca destes.
Além da infecção, também é necessário tratar as manifestações secundárias, como a baixa pressão e falta de oxigenação no sangue. Para isso, podem ser utilizados máscaras e tubos de oxigênio, além da administração de fluidos por via intravenosa. Em casos mais graves, o paciente pode ser encaminhado para a UTI para acompanhamento dos sinais vitais e administração de medicamentos – como vasopressina, epinefrina ou norepinefrina – que aumentam a pressão arterial.
A principal forma de prevenir a sepse é impedir que infecções se instalem em nossos corpos. Alguns hábitos podem contribuir para isso:
O prognóstico do paciente depende de muitos fatores, incluindo o tipo e local de infecção, a rapidez no tratamento, a eficácia do antibiótico e das medicações utilizadas, além do estado de saúde prévio e atual do paciente. Quanto mais rápido e assertivo é o início do tratamento, maiores são as chances de cura.
Ainda assim, é preciso estar atento aos sinais, uma vez que a mortalidade por choque séptico pode ultrapassar 50% dos casos.
Instituído em 2012 por sugestão da Aliança Global para Sepse (GSA – Global Sepsis Alliance), o Dia Mundial da Sepse é celebrado em 13 de setembro, sendo acompanhado por campanhas e eventos com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o tema. Além disso, a data também reflete um momento de apoio e solidariedade com sobreviventes da sepse e familiares que perderam seus entes queridos para esta enfermidade. No Brasil, o Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS) promove ações durante todo o mês de setembro, sendo direcionadas tanto para profissionais de saúde quanto para o público geral.
Tendo em vista que uma parcela significativa dos casos de sepse é associada a infecções adquiridas em unidades de saúde (IRAS), a implementação de sistemas de controle de qualidade hospitalar faz-se extremamente necessária. A utilização correta de equipamentos de proteção individual (luvas, toucas, jalecos e etc.), higienização das mãos e desinfecção de superfícies, além da destinação adequada dos resíduos gerados são as principais medidas para evitar a disseminação de microrganismos e contaminação dos pacientes.
Ainda, considerando que 85% dos casos de sepse e mortes associadas a ela ocorrem em países em desenvolvimento, a conscientização sobre a sepse como um problema de saúde pública é necessária também a nível governamental. A instituição de programas nacionais de vacinação, a ampliação e melhoria do saneamento básico, além do acesso rápido a tratamento médico de qualidade são fatores decisivos para diminuir a incidência e a taxa de mortalidade da sepse.
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Agora que você já sabe tudo sobre a sepse, não deixe de fazer a sua parte na prevenção desta doença. Lembre-se também de cuidar bem da sua saúde, mantendo um estilo de vida saudável e os exames em dia. A Hilab oferece exames tanto para o rastreamento da sua saúde, quanto para o acompanhamento do estado de saúde do paciente durante a sepse. Encontre nosso parceiro mais próximo e faça um Hilab!
(1) Rudd KE, Johnson SC, Agesa KM, Shackelford KA, Tsoi D, Kievlan DR, et al. Global, regional, and national sepsis incidence and mortality, 1990-2017: analysis for the Global Burden of Disease Study. Lancet (London, England). 2020;395(10219):200-11. Disponível em: <https://www.thelancet.com/article/S0140-6736(19)32989-7/fulltext>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
(2) Singer M, Deutschman CS, Seymour CW, et al. The Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3). JAMA 2016; 315(8): 801-10. Disponível em: <https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2492881>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
(3) Anuar Saleh. Escore SOFA: o que é e como é utilizado no contexto da sepse? Disponível em: <https://www.medway.com.br/conteudos/escore-sofa-o-que-e-e-como-e-utilizado-no-contexto-da-sepse/>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
(4) Gotts JF, Matthay, MA. Sepsis: pathophysiology and clinical management. BMJ 2016;353:i1585. Disponível em: <https://www.bmj.com/content/353/bmj.i1585>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
(5) COREN-SP, Instituto Latino Americano para Estudos da Sepse (ILAS). Sepse – Um problema de Saúde Pública. São Paulo, 2020. Disponível em: <https://ilas.org.br/wp-content/uploads/2022/02/livro-sepse-um-problema-de-saude-publica-coren-ilas.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
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(7) Biblioteca Virtual em Saúde – Ministério da Saúde. 15/5 – Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/15-5-dia-nacional-do-controle-das-infeccoes-hospitalares-4/>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
(8) Pfizer. Você sabe o que é sepse e como pode ser evitada? Disponível em: <https://www.pfizer.com.br/noticias/ultimas-noticias/voce-sabe-o-que-e-sepse-e-como-pode-ser-evitada#:~:text=Quando%20nosso%20corpo%20se%20depara,%25%20dos%20casos%2C%20no%20Brasil>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
(9) Pardini A. Sepse. Disponível em: <https://www.einstein.br/doencas-sintomas/sepse-hemodinamica>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
(10) Forrester JD. Sepse e choque séptico. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/bacteremia-sepse-e-choque-s%C3%A9ptico/sepse-e-choque-s%C3%A9ptico>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
(11) Bruna MHV. Sepse (Septicemia). Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/sepse-septicemia/>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
(12) Biblioteca Virtual em Saúde – Ministério da Saúde. Dia Mundial da Sepse: pare a sepse, salve vidas. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/13-9-dia-mundial-da-sepse-pare-a-sepse-salve-vidas/>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2023.
Engenheira de bioprocessos e biotecnologista e mestre em microbiologia, parasitologia e patologia. Faz parte do time de pesquisa e desenvolvimento em biologia molecular da Hilab. É apaixonada pelos mistérios da ciência e do universo.
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