Micheli Pecharki | 12 nov 2021
Embora o HTLV seja um vírus pouco conhecido pela população, o Brasil é o país do mundo com maior número de casos: cerca de 2,5 milhões de brasileiros estão infectados pelo HTLV.
Em todo o mundo, estima-se que 20 milhões de pessoas estejam infectadas pelo HTLV-I, um dos tipos de HTLV.
Por ser um vírus que recebe pouca atenção, muitas pessoas têm dúvidas sobre essa infecção. Saiba o que é o HTLV, quais são os sintomas e o que fazer para evitá-lo.
O HTLV (vírus T-linfotrópico humano) é um vírus que pertence à mesma família do HIV, o vírus causador da AIDS. Ele atinge os linfócitos T, ou seja, as células de defesa do organismo. Neste vídeo, o Dr. Bernardo Almeida, médico infectologista explica o que é o HTLV.
Existem dois tipos desse vírus: o HTLV-I e o HTLV-II.
O subtipo I é o mais perigoso e está relacionado a doenças neurológicas degenerativas graves e doenças hematológicas, como a leucemia e o linfoma de células T do adulto.
O HTLV é uma IST, ou seja, uma Infecção Sexualmente Transmissível. Desta forma, o vírus é transmitido principalmente através da relação sexual desprotegida, sendo que a transmissão por meio do sexo é mais ocorre com mais frequência do homem para a mulher.
Também pode ser transmitido por transfusão de sangue e compartilhamento de seringas e agulhas por usuários de drogas.
Outra forma de transmissão é a vertical, que ocorre da mãe para o filho durante a gestação, parto ou aleitamento materno. A transmissão do vírus por meio da amamentação ocorre em 20% a 30% dos bebês amamentados por mães infectadas. A transmissão intrauterina ou no período periparto (período que vai desde o último mês de gravidez até cinco meses após o parto) ocorre em menos de 5% dos casos.
A maioria das pessoas infectadas pelo vírus – cerca de 90% – não desenvolve sinais e sintomas ao longo da vida e, desta forma, mantém uma cadeia de transmissão silenciosa.
Cerca de 10% das pessoas que têm o vírus apresentarão doenças relacionadas ao vírus, dentre as quais:
Outras manifestações clínicas da infecção pelo HTLV-1 incluem:
O HTLV-I causa a leucemia/linfoma de células T do adulto (LLcTA), a paraparesia espástica tropical/mielopatia associada ao HTLV (TSP/HAM), uveíte associada ao HTLV (HAU), além de anormalidades dermatológicas e imunológicas.
O subtipo II não se mostrou associado a nenhuma doença até o momento.
A mielopatia é uma doença crônica progressiva que compromete a medula espinhal. A doença ocorre mais em mulheres com idade superior a 40 anos, em uma proporção de três mulheres para cada homem.
Os sintomas incluem paraparesia espástica (fraqueza gradual com espasmos musculares nas pernas), incontinência urinária, dor na região lombar, entre outros.
A ALT é a primeira doença humana identificada como causada por um retrovírus. É uma doença maligna das células T periféricas, associada à infecção pelo HTLV-1. Essa forma de leucemia não responde à quimioterapia e é, geralmente, fatal. A doença ocorre em aproximadamente 5% das pessoas infectadas.
A uveíte é uma doença inflamatória que atinge os olhos. Os estudos de uveíte associada ao HTLV-I, descrevem como sintomas característicos, “moscas volantes” e embaçamento visual.
Como grande parte das pessoas não desenvolve sintomas ao longo da vida, a maioria só descobre a doença por acaso, quando vai doar sangue, por exemplo.
A maior parte das pessoas descobre que tem a infecção após fazer doação de sangue.
A testagem dos doadores de sangue é uma estratégia obrigatória do Ministério da Saúde e foi adotada em 1993.
O diagnóstico do HTLV é baseado na detecção de anticorpos específicos por meio dos seguintes exames:
Caso o resultado de algum destes testes seja reagente, ou seja, positivo, é necessária a confirmação, que poderá ser realizada pelo teste de Western-blot, INNOLIA, reação de polimerase em cadeia (PCR) ou imunofluorescência indireta.
O Western-blot e a PCR, além de confirmatórios, permitem diferenciar se a pessoa está infectada pelo subtipo I ou II.
A infecção não tem cura e também não há tratamento específico para a mesma. No entanto, o risco de doença associada ao HTLV é baixo. Como vimos, cerca de 90% das pessoas infectadas não apresentam sintomas.
O tratamento depende da doença relacionada. No caso da ALT, que citamos anteriormente, são diversos os protocolos de tratamento descritos, dentre eles os que empregam quimioterapia, zidovudina (AZT)/interferon-α (IFN-α) e transplante hematopoiético de células-tronco.
Não existe vacina preventiva para a infecção. Sendo assim, as medidas de prevenção são as mesmas para evitar outras IST: uso de preservativo (masculino ou feminino) nas relações sexuais e não compartilhamento de seringas e agulhas. O preservativo está disponível gratuitamente na rede pública de saúde.
Se você considerou esse conteúdo útil, confira outros textos sobre IST no nosso blog!
Carneiro-Proietti, Anna; Bárbara F. et al. Infecção e doença pelos vírus linfotrópicos humanos de células T no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical [online]. 2002, v. 35, n. 5 [Acessado 1 Novembro 2021] , pp. 499-508. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0037-86822002000500013>. Epub 27 Nov 2002. ISSN 1678-9849. https://doi.org/10.1590/S0037-86822002000500013.
GRZESIUK, ANDERSON KUNTZ e MARTINS, PEDRO DE MIRANDA. Paraparesia espástica tropical/ mielopatia associada ao HTLV-I: relato de dois casos diagnosticados em Cuiabá, Mato Grosso. Arquivos de Neuro-Psiquiatria [online]. 1999, v. 57, n. 3B [Acessado 1 Novembro 2021] , pp. 870-872. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0004-282X1999000500023>. Epub 06 Dez 2000. ISSN 1678-4227. https://doi.org/10.1590/S0004-282X1999000500023.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Infecção pelo HTLV. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist/infeccao-pelo-htlv>. Acesso em: 12 de novembro de 2021.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de Manejo Clínico da Infecção pelo HTLV. Disponível em: <http://www.sierj.org.br/artigos/htlv_manual_final_pdf_25082.pdf>. Acesso em: 12 de novembro de 2021.
Micheli é Bióloga. Acredita que transformar o conhecimento técnico em algo acessível é essencial para que as pessoas saibam como cuidar mais da própria saúde e vivam, assim, com mais qualidade de vida.
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