Hilab | 13 dez 2021
Duas infecções bem diferentes uma da outra, mas que possuem uma relação que pouca gente conhece, são a tuberculose e HIV. Por conta da chamada coinfecção, a tuberculose é a principal causa de morte de pessoas infectadas pelo HIV.
Estudos da correlação entre as infecções mostram que pessoas com HIV têm 28 vezes mais chances de contrair tuberculose. Além disso, dados de 2019 apontam que, no Brasil, cerca de 10% a 12% de todos os infectados pela tuberculose são pessoas vivendo com HIV. Naquele ano, cerca de 7,4 mil brasileiros foram diagnosticados com as duas doenças.
Mas o que causa essa correlação entre duas doenças tão distintas? Vamos entender melhor sobre cada uma e conhecer as razões dos perigos dessa coinfecção.
A tuberculose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis ou pelo bacilo de Koch. Ela é transmitida pelo ar, através da respiração, espirros, tosse e até pela fala. Felizmente, a doença não é transmissível através de contato com objetos, como talheres, copos e etc, pois as bactérias que se alojam em objetos possuem taxa de transmissibilidade extremamente baixa.
A tuberculose possui dois tipos: pulmonar e extrapulmonar. O primeiro tipo, como o nome sugere, afeta diretamente os pulmões. Já a forma extrapulmonar ataca outros órgãos – um exemplo de forma extrapulmonar é a tuberculose ganglionar, que afeta os gânglios linfáticos, responsáveis pelas defesas do nosso corpo.
Os sintomas da tuberculose pulmonar são semelhantes ao da gripe, com o principal sintoma sendo tosse seca e constante. Outros sintomas comuns são:
Já os sintomas da tuberculose extrapulmonar dependem do órgão afetado. Um exemplo é o caso da tuberculose cutânea, que ataca a pele do paciente, causando úlceras e feridas profundas. Se a doença afeta o fígado – que é um órgão com grande capacidade regenerativa – há grandes chances dela disseminar-se para a vesícula biliar, o que leva à icterícia obstrutiva na glândula, causando dores agudas na região do abdômen e podendo resultar na necessidade de uma cirurgia para remoção da vesícula.
HIV significa Vírus da Imunodeficiência Humana, ou seja, é um vírus que ataca o sistema imunológico do paciente. O HIV é uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível), o que significa que é um vírus transmissível principalmente por meio de relações sexuais, mas também pode ser transmitido por contato com sangue contaminado, através de transfusões e compartilhamento de seringas, por exemplo.
É importante saber que HIV e AIDS não são a mesma coisa. Quando uma pessoa é infectada pelo HIV, ela pode passar anos sem ter nenhum sintoma identificado. Aqueles que se enquadram nesse quadro são as chamadas pessoas que vivem com HIV.
A AIDS – sigla que significa Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – é o estágio final da infecção pelo HIV, que é quando o sistema imunológico da pessoa com HIV é efetivamente atacado pelo vírus, tornando-se extremamente vulnerável a outras infecções, as chamadas infecções oportunistas. Neste vídeo, o Infectologista Bernardo Almeida explica essas diferenças:
Como o HIV enfraquece as defesas do corpo, uma pessoa que vive com a doença fica muito mais vulnerável a todo tipo de infecção, e a tuberculose passa a ser ainda mais perigosa, como apontam os alarmantes dados mencionados anteriormente, de que pessoas com HIV têm 28 vezes mais chances de contrair tuberculose.
Além disso, após contrair tuberculose, essas pessoas são ainda mais suscetíveis a seus sintomas, pois o corpo não tem forças para combater a bactéria, que se espalha rapidamente causando muitos danos, potencializando ainda mais o perigo da doença.
Por conta dessa vulnerabilidade, a maior causa de morte de pessoas que vivem com HIV é a tuberculose. Como o HIV pode não manifestar sintomas por um longo tempo, muitas pessoas não sabem que têm a doença, o que consequentemente as deixa mais expostas à tuberculose. Por isso, quando a tuberculose é diagnosticada, imediatamente é realizado um exame para verificar se o paciente é tem AIDS – e muitas pessoas acabam descobrindo que são portadoras do HIV dessa forma.
Além disso, pessoas que vivem com HIV precisam realizar exames para identificar a bactéria da tuberculose com certa frequência, por conta dos enormes riscos de contração da doença e de maior dificuldade para tratá-la, com sintomas e perigo potencializados.
O diagnóstico do HIV é feito através de exames de sangue que verificam a presença de anticorpos anti HIV-1/2. O exame identifica a infecção como reagente se os anticorpos forem identificados, e não reagente em caso contrário. Se o resultado for positivo para a presença do HIV, o paciente deverá realizar outros exames para confirmar a infecção, buscando ajuda médica o quanto antes para o tratamento da doença.
O exame para detecção do HIV também pode ser realizado por meio de um teste laboratorial remoto (TLR) por meio de uma pequena amostra de sangue coletada da ponta do dedo. O resultado é muito rápido – leva, em média, 25 minutos – e possui alta confiabilidade graças ao sistema de dupla verificação, com o laudo analisado por uma inteligência artificial e por um especialista em laboratório. Vale ressaltar que esse é um exame preliminar: o resultado reagente ao HIV vai requerer exames mais aprofundados para que se tenha certeza da infecção.
A tuberculose, por sua vez, pode ser diagnosticada através de diferentes exames, alguns mais eficazes do que os outros. Entre os métodos principais e preliminares de diagnóstico, temos a radiografia do pulmão, em que é verificada a presença de mucosas dentro dos pulmões – que são possíveis indicativos para a doença.
Outro exame analisa em laboratório o escarro de um paciente, procurando a presença da bactéria causadora da doença na amostra. Entretanto, este método não é 100% confiável, podendo não identificar a infecção. Há ainda o teste tuberculínico, que é realizado na pele, através da administração de antibióticos para verificar se há alguma reação, que indicaria que a pessoa está infectada.
A Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde recomendam o rastreamento de pacientes com HIV para qualquer dos sintomas principais da tuberculose, em especial tosse, febre, perda de peso e sudorese noturna.
O tratamento da combinação de tuberculose e HIV necessita muita atenção e cuidado, pois é realizado para combater as ações de uma bactéria e um vírus simultaneamente – dois organismos microscópicos que são muito diferentes entre si, e demandam cuidados específicos.
A primeira coisa a ser avaliada para o tratamento é o estado de saúde do paciente em relação à coinfecção. Em outras palavras, é preciso saber como está o sistema imunológico do paciente e quão grave é a infecção da tuberculose. O ideal é que o tratamento seja feito em doses específicas para cada paciente, alterando-as quando necessário, pelo progresso e regresso da coinfecção.
O tratamento pode ser feito por meio de medicações ou outras abordagens. Um dos mais comuns é a pela administração de RHZE (Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol) por dois meses, seguido de RH (Rifampicina Isoniazida) por mais quatro meses. Estudos sobre a Rifampicina comprovam que o medicamento é seguro de ser administrado, e novos tratamentos, com doses maiores, já têm sido estudados, com grandes chances de eficácia.
É de vital importância que o paciente tome a medicação de forma correta. Tomar doses menores ou pular dias do tratamento, não administrando as medicações com a frequência certa, têm efeito adverso do esperado, pois torna as bactérias e vírus mais resistentes, dificultando o tratamento e aumentando os riscos à vida do paciente.
Se você é vive com HIV, é muito importante cuidar de sua saúde da forma correta para não infectar-se, especialmente neste cenário de pandemia, que fez com que novos casos de tuberculose explodissem graças à fragilidade do sistema respiratório afetado pelo coronavírus.
A principal forma de prevenção é através da Terapia Anti-Retroviral, que é o tratamento para a própria infecção do HIV. Com esse tratamento, o paciente protege seu sistema imunológico, o que, consequentemente, permite que o corpo possa combater a bactéria da tuberculose com mais eficácia.
Além disso, o diagnóstico e tratamento precoce são de suma importância, principalmente em casos de infecção latente. Pessoas com tuberculose podem não apresentar sintomas mesmo estando com a bactéria no corpo, o que significa que a doença está “dormente”, podendo causar sintomas a qualquer momento.
Com um monitoramento constante da saúde, quando a bactéria latente é identificada o tratamento pode ser administrado imediatamente, aumentando as chances de eliminar a bactéria antes que ela apresente riscos.
Ou seja, o próprio tratamento do HIV é o primeiro e mais importante passo para proteger a saúde em caso de tuberculose e HIV. Lembrando que é muito importante que um paciente com HIV tome suas medicações de forma correta, resguardando sua saúde e qualidade de vida.
Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Ministério da Saúde. Pessoas que vivem com HIV têm 28 vezes mais chances de contrair tuberculose. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/pessoas-que-vivem-com-hiv-tem-28-vezes-mais-chances-de-contrair-tuberculose>. Acesso em: 06 de dezembro de 2021.
Universidade Federal da Paraíba. Você sabe qual a relação existente entre o vírus HIV e a tuberculose? Disponível em <https://www.ufpb.br/saehu/contents/noticias/qual-a-relacao-entre-hiv-e-tuberculose>. Acesso em 06 de dezembro de 2021.
MANUAL MSD. Tuberculose Extrapulmonar (TB). Disponível em <https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/micobact%C3%A9rias/tuberculose-extrapulmonar-tb> Acesso em 07 de dezembro de 2021.
Bio em Foco. Tuberculose é a principal causa de morte entre pessoas com HIV. Disponível em <https://bioemfoco.com.br/noticia/tuberculose-e-a-principal-causa-de-morte-entre-pessoas-com-hiv/) Acesso em 07 de dezembro de 2021.
Sociedade Brasileira de Infectologia. O tratamento da coinfecção VIV-TB. Disponível em <https://www.bjid.org.br/en-o-tratamento-da-coinfeccao-hiv-tb-articulo-X2177511716600168) Acesso em 07 de dezembro de 2021.Organização Panamericana de Saúde. Mortes por tuberculose aumentam pela primeira vez em mais de uma década devido à pandemia de COVID-19. Disponível em <https://www.paho.org/pt/noticias/14-10-2021-mortes-por-tuberculose-aumentam-pela-primeira-vez-em-mais-uma-decada-devido#:~:text=Os%20desafios%20de%20fornecer%20e,5%2C8%20milh%C3%B5es%20em%202020.> Acesso em 08 de dezembro de 2021.
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