Hilab | 18 out 2021
Os serviços farmacêuticos, como conciliação de medicamentos, revisão da farmacoterapia, acompanhamento farmacoterapêutico, entre outros, dependem da expertise do farmacêutico para identificar, prevenir e resolver problemas relacionados à farmacoterapia.
No Brasil, cerca de 30% das internações hospitalares têm origem em problemas relacionados a medicamentos, segundo o Conselho Federal de Farmácia. Neste artigo, vamos explicar o que são os problemas relacionados a medicamentos (PRMs) e qual é o papel que o farmacêutico tem na redução deste problema de saúde comunitária.
Problemas relacionados a medicamentos (conhecidos pela sigla PRM), são, de acordo com o Segundo Consenso de Granada “problemas de saúde, entendidos como resultados clínicos negativos, derivados da farmacoterapia que, produzidos por diversas causas, conduzem ao não alcance dos objetivos terapêuticos ou ao surgimento de efeitos não desejados”.
São definidos, portanto, como quaisquer eventos ou circunstâncias indesejáveis que envolvem a farmacoterapia do paciente, e que potencialmente interferem com o sucesso que seria esperado dos resultados medicamentosos previstos.
Um PRM é um especialmente preocupante porque interfere nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida do paciente, que pode sofrer com os efeitos colaterais e ter sua saúde prejudicada por uma reação adversa ou por conta de interações medicamentosas.
Existem diversos tipos de problemas relacionados a medicamentos que podem acontecer, muitos deles começando na farmácia – que, afinal, é onde o paciente costuma ter acesso aos medicamentos.
O Segundo Consenso de Granada classifica os PRMs de três formas: indicação (PRM 1 e PRM 2), efetividade (PRM 3 e PRM 4) e segurança (PRM 5 e PRM 6). Conhecer e identificar cada um destes problemas é essencial para o farmacêutico que deseja atuar na área clínica. A seguir, vamos ver o que significa cada um dos PRMs.
No PRM 1, o paciente precisa de um medicamento, porém não tem acesso a ele. Isso pode ocorrer devido a erros na prescrição – quando o paciente recebe o medicamento incorreto para tratar a doença – ou pela ausência do diagnóstico.
Outro problema de indicação é o PRM 2. Neste caso, o paciente recebe uma medicação desnecessária, o que é muito comum em casos de automedicação. Com isso, ele coloca a saúde em risco, pois não está totalmente ciente da composição do remédio, nem de suas contraindicações ou possíveis efeitos colaterais e/ou adversos.
Os medicamentos precisam ser efetivos no alcance das metas estabelecidas. É preciso que o medicamento esteja em sua dose e frequência adequadas para o paciente. Os PRMs de efetividade dizem respeito à inefetividade dos medicamentos.
O PRM 3, ocorre quando o paciente poderia estar fazendo uso de uma medicação mais adequada. Desta forma, o tratamento não é tão efetivo quanto poderia ser porque o paciente não está fazendo uso da melhor opção existente.
Problemas de efetividade também podem estar relacionados à quantidade (PRM 4). Neste problema, o paciente pode estar recebendo uma quantidade insuficiente da medicação, impedindo que o medicamento atinja a sua máxima eficácia.
O medicamento efetivo também precisa ser seguro para o paciente. Desta forma, o farmacêutico deve trabalhar para que os efeitos nocivos dos medicamentos possam ser prevenidos e tratados. Neste caso, temos o PRM 5, que diz respeito à insegurança não quantitativa do medicamento. Por exemplo: o paciente utiliza um hipnótico que tem como efeito adverso o sono, que, no entanto, é um efeito esperado deste tipo de fármaco. A insegurança também pode ser quantitativa (PRM 6). Ocorre quando, por exemplo, o paciente toma uma sobredose de varfarina (anticoagulante) e, devido a essa sobredose, apresenta sangramentos.
Existem também, problemas que podem ser classificados em mais de um PRM. É o caso das reações adversas a medicamentos (RAMs), que são problemas de saúde decorrentes da utilização de medicamentos. Uma RAM pode ser um PRM 5, ou seja, efeito colateral esperado mas também pode ser um PRM 6 – um efeito adverso que ocorre devido ao uso de uma sobredose.
Bom lembrar que efeito adverso e efeito colateral são coisas diferentes: o efeito adverso é previsível, mas não obrigatoriamente prejudicial. O efeito colateral é não intencional, podendo ser benéfico ou não. A farmacologia visa justamente balancear o benefício que um medicamento oferece X os efeitos colaterais que ele causa.
A prevenção, identificação e resolução de problemas relacionados a medicamentos envolve uma série de práticas e ações que compreendem a chamada Atenção Farmacêutica, ou Assistência Farmacêutica.
A Política Nacional de Medicamentos (PNM), elaborada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) define a assistência farmacêutica como “um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e seu uso racional”.
O processo de atenção farmacêutica coloca o farmacêutico no centro do processo de prevenção dos PRMs, ao lado de outros profissionais da saúde. As ações do farmacêutico envolvem entrevistas com o paciente, para entender exatamente qual é a sua enfermidade, a fim de identificar a medicação mais adequada para aquele caso. A intervenção farmacêutica se faz necessária para garantir que as pessoas tenham acesso aos medicamentos corretos.
A intervenção farmacêutica pode ter diversas funções: o farmacêutico pode, por exemplo, sugerir a interrupção do uso de um medicamento, a mudança de forma farmacêutica ou princípio ativo a ser utilizado, bem como a mudança na posologia ou o intervalo na administração de um medicamento. Nestes casos, o farmacêutico deve contatar o médico que prescreveu o remédio, explicar o que ele identificou e solicitar auxílio para escolher o fármaco mais adequado. O trabalho conjunto com outros profissionais da saúde é, portanto, fundamental.
Em muitos casos, o farmacêutico também acaba exercendo a função de consultor da saúde – especialmente em comunidades pobres, onde a população acaba não tendo acesso a consultas especializadas. Nestes casos, a intervenção farmacêutica pode acontecer espontaneamente, com o farmacêutico sugerindo bons hábitos a fim de estimular um estilo de vida mais saudável.
A Lei Nº 13.021, outorgada em 8 de agosto de 2014, representa um marco no segmento farmacêutico, uma vez que elevou a farmácia ao grau de estabelecimento de saúde, conferindo autonomia técnica ao profissional farmacêutico no que diz respeito aos cuidados com a saúde da população.
Ou seja, a farmácia não é apenas um lugar que vende medicamentos, mas um ambiente com profissionais qualificados, que estão ali para zelar pela saúde das pessoas e oferecer o melhor atendimento possível. O artigo 10 afirma que o farmacêutico deve realizar “todos os esforços para promover o uso racional de medicamentos”.
Já o artigo 13 lista as atribuições do farmacêutico, que passaram a incluir (entre outras coisas) a manutenção do “cadastro atualizado com dados técnico-científicos das drogas, fármacos e medicamentos disponíveis na farmácia”. Outro ponto é o estabelecimento de “protocolos de vigilância farmacológica de medicamentos, produtos farmacêuticos e correlatos, visando a assegurar o seu uso racionalizado, a sua segurança e a sua eficácia terapêutica”.
Também é válido ressaltar que, segundo a Lei 13.021, o farmacêutico passou a ser responsável por “prestar orientação farmacêutica, com vistas a esclarecer ao paciente a relação benefício e risco, a conservação e a utilização de fármacos e medicamentos inerentes à terapia, bem como as suas interações medicamentosas e a importância do seu correto manuseio”.
Se a farmácia deixou de ser um ponto de simples dispensação de remédios, ela passa a ocupar um lugar de muito mais importância nos cuidados à saúde da população. Para exercer esta função com mais propriedade, ela pode oferecer serviços de saúde variados, que facilitem o acesso à saúde.
Um bom exemplo é a utilização de Testes Laboratoriais Remotos (TLR) para realização de testes e exames variados. Estes dispositivos utilizam o que há de mais moderno em tecnologia – como Inteligência Artificial (IA) e cloud computing – para emitir diagnósticos de diversas doenças ou identificar anomalias que podem ter relação com alguma enfermidade.
A utilização de um TLR é simples: o farmacêutico recebe um treinamento (geralmente por meio de uma plataforma online) para aprender as funções do equipamento e realizar a coleta de material genético. De resto, tudo é bastante automatizado – o dispositivo “faz tudo sozinho” em poucos minutos.
Ter um TLR disponível é bom para a farmácia e para os clientes: a farmácia aumenta seu leque de serviços – o que se converte em um maior ticket médio. A comunidade, por sua vez, passa a contar com a praticidade de realizar exames perto de casa, sem a necessidade de se deslocar até hospitais ou laboratórios clínicos. Isso é especialmente vantajoso para portadores de doenças crônicas, que necessitam de monitoramento constante.
Se quiser oferecer a expertise e tecnologia dos TLRs na sua farmácia, fale conosco. Juntos, podemos tornar a saúde mais acessível para todos.
Conselho Federal de Farmácia. PRM como causa de hospitalizações é tema da “Entrevista Farmacêutica”. Disponível em: <https://cff.org.br/noticia.php?id=4394>. Acesso em: 18 de outubro de 2021.
Matsnaka, C. Y,. et. al. Resolução de problemas relacionados a medicamentos (PRMs) – Atenção Farmacêutica em Farmácias de Londrina-PR. Revista Infarma, v. 14, nº 5/6, 2002.
Somos especialistas em Point-of-Care Testing. Criamos dispositivos para exames PoCT, realizados com apenas algumas gotas de sangue e resultados entregues em poucos minutos. Nosso propósito é democratizar o acesso à saúde.
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